terça-feira, 27 de novembro de 2012

O PERU E O NATAL DE 1.964



Há alguns anos atrás, aqui na Vila Mariana, a vida era tranquila; o dinheiro era curto, mas vivíamos felizes. Ruas sem asfalto, poucos carros, nada de poluição. Assaltos? Nem pensar! Um ou outro "bebum" já conhecido do bairro aparecia, a compra com caderneta na mercearia do Seu João, mas naquele Natal foi diferente.

Meu tio, um advogado renomado, decidiu passar o Natal conosco e ele, como era "abonado", comprou o maior peru que tinha no açougue. Só que como era muito grande, resolveram, então, assar na padaria Sagres.

O alvoroço era grande. Imaginem: família italiana, véspera de Natal, muitos quitutes feitos à mão mesmo, nada de congelado, nem em saquinhos. Tudo bem fresquinho e, depois de horas, lá foram o meu pai e meu tio para a padaria, a pé, buscar o peru (que não era desses congelados).

Enquanto isso, minha mãe e minha tia arrumavam a mesa para a ceia e deixaram um lugar grande reservado para "depositar" o peru. Meu avô tocando sanfona; nós, as crianças, tentando dançar a ”tarantela”. E, de repente, ouvimos as vozes e passos chegando, carregando o peru.

Na hora que foi aberto o pacote, sabe o que tinha? Um peruzinho de aproximadamente meio quilo. Oh! Espanto geral!

Meu tio, possesso, disse que iria processar a padaria. Meu pai, falando que sentiu muito leve o pacote; minha mãe e minha tia quase choraram ao ver aquele "filhote" de peru (instinto materno mesmo). E a sanfona parou de imediato e meu avô, arrastando o português, nada entendeu:
- Vocês não disseram que era um peru "prá mais de metro"?
- Vamos voltar para ver o que aconteceu! - disse meu tio, já subindo pelas paredes.

Quando lá chegaram, tinha um homem reclamando que aquele peru era muito grande e ele, sozinho, tinha comprado o peru só para ele.

Bom, tudo acabou bem e a maior novidade de todas é que meu pai trouxe o homem junto, pois ficou com pena de deixá-lo passar o Natal sozinho. E o "peruzinho" também foi colocado à mesa.

Hoje, não seria possível trazer um desconhecido para cear em nossa casa, mas naquela época era assim: a bondade e solidariedade estavam em todos e em qualquer lugar.

 Roseli Tadeu Nabarrete

terça-feira, 13 de novembro de 2012

CHEGADA DO METRÔ EM SÃO PAULO


Imagem do mêtro no pateo jabaquara - 1972 




Antes era o bonde- Centex que facilitava  a vida dos paulistanos e fazia parte da paisagem urbana, cortando com seus trilhos as ruas e avenidas da cidade.  Em 27 de março de 1968 essa atividade se findou na Linha de Santo Amaro e para os “entendidos” esse transporte se tornou obsoleto, diante das novas tecnologias, embora São Paulo tenha sido uma das cidades que mais utilizou esse meio de transporte, que cortava as avenidas  com seus trilhos , seu barulho peculiar, motorneiro e cobrador, esse que ficava pendurado no estribo para receber o dinheiro da passagem e depois tocava um sininho, avisando que o motorneiro poderia seguir viagem, mas todo esse romantismo teve fim.
As obras da primeira linha do Metrô começaram a ser construídas em 1968 e foi inaugurada em 1974 – chamada Linha Norte-Sul, ligando o Jabaquara à Santana, em 1975 foi inaugurado o trecho Vila Mariana-Liberdade e também Liberdade-Santana e 1978 foi a vez da Estação Sé.
No início era um “zum,zum,zum” medonho entre os habitantes das regiões que o Metrô iria atingir, inclusive gerando desespero entre os comerciantes, pois seriam 6 anos de pura estagnação para o comércio, calçadas foram diminuídas  e apesar do transtorno causado no pedaço, ônibus desviados de seus trajetos e moradores atônitos, finalmente a Linha Azul foi inaugurada e um alívio para todos.
Os mais velhos juravam que nunca iriam utilizar o “bicho”  sob a terra e diziam que embaixo da terra é só  tatu e quando a gente morre, sete palmos abaixo.
A primeira viagem no metrô foi um alvoroço, pois todos queriam conhecer aquela obra prima da engenharia e virou ponto turístico nos finais de semana.
Um amigo meu, o Cafu decidiu, com muito medo, enfrentar sozinho o “bicho”, então ele comprou o bilhete, mas não sabia como usá-lo, por vergonha de perguntar ficou parado, observando como as pessoas agiam, mas o que ele via era que elas “batiam” na catraca e passavam, sem utilizar o bilhete, então ele fez o mesmo, e lá ficou parado por alguns minutos até que o funcionário do Metrô percebeu aquele rapaz, batendo o tempo todo na catraca e foi até lá ajudá-lo.
A risada foi geral, pois ele, que era negro, dizia que tinha ficado roxo de vergonha.
Nosso bairro ficou valorizado pela presença de tão alta tecnologia e orgulhosos todos dizíamos que nosso bairro era o mais moderno de São Paulo.
A geração de hoje, tão acostumada à esse meio de transporte, não faz ideia do que era a vida antes do Metrô, ônibus lotado da CMTC, demorava horas para se chegar até o centro da cidade, claro ainda hoje temos esse problema  , mas sem o metrô  seria  um verdadeiro  caos.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

OUTUBRO - MÊS DAS CRIANÇAS



As crianças do século passado eram brindadas com cantigas de ninar como: Boi da Cara Preta, Dorme nenê que a cuca vem pegar, ora um boi de cara preta e se a criança não dormisse a cuca a pegaria., assim como O cravo brigou com a rosa( violência pura). Vejam que absurdo cantar isso para as pobres crianças, mas todas dormiam mesmo pensando no boi e na cuca. Se fosse hoje os pais estariam sendo punidos por cantar músicas tão apavorantes para as crianças.

As brincadeiras eram tantas e inesquecíveis com o  Ciranda, Mãe da Rua, Passar anel, Esconde- Esconde, empinar pipa, rodar pião, queimada, bambolê, amarelinha (que tem o céu e o inferno) e que jogávamos com casca de banana e pensar que tudo era tão simples e ingênuo.

E quando os adultos estavam conversando e uma criança entrava, todos paravam de falar e diziam: Mudem de assunto porque que tem gente “ descalça”. Eu não entendia porque estava sempre de sapatos e lá ia para fora sem nada perguntar.

Naquele época criança não tinha voz para nada, era beijar as mãos dos mais velhos, respeitar  e obedecer, só isso, sem nenhum estresse e essa educação dava certo.

Num dia da criança meu pai nos deu a coleção completa do Monteiro Lobato e também dos Irmãos Grimm o que me levou a ser uma leitora contumaz, além do Salão da Criança no Ibirapuera, onde nossos olhos brilhavam com tantas novidades: uma laranja enorme onde podíamos entrar em fila e ganhar suco de laranja geladinho entra outras e também o Parque Xangai, outro lugar obrigatório no mês das crianças.

Hoje o que sinto é que os pais estão distantes dos filhos, muito mais do que antes e tudo o que os filhos pedem é dado sem questionar. Não sei até que ponto é bom: Ipad, Ipod, Celuar, tablete e a criança cada vez mais afastada das coisas simples do cotidiano. Vejo crianças com tudo pronto nas mãos e isso me assusta.

Bem o tenho certeza é que quando Deus coloca um ser em nossos braços, Ele nos possibilita sermos melhores e, por conseguinte Ele nos dá a divina oportunidade de criarmos seres para o mundo com amor ao próximo, solidariedade, carinho e amor a todos os seres vivos.

Crianças aproveitem essa semana  e curtam muito diversão, brinquedos e principalmente sua família, porque só somos crianças uma vez na vida.

 

 

 

VIVA TODAS AS CRIANÇAS DO BRASIL E DO MUNDO!!!

 

Tia de duas crianças lindas

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

A ESCOLA QUE SONHAMOS


EXTERNATO TIBIRIÇÀ
VILA MARIANA
1960

 





Conforme estudos e opiniões de educadores, o modo de chamar a professora de tia é extremamente danoso para os alunos, pois cria uma intimidade que não é saudável nem para alunos, nem para a escola.
Todos dizemos que antigamente era melhor, pois o professor era tão respeitado quanto nossos pais e avós. Havia uma diferença entre o relacionamento de ambos e por isso tudo dava certo.
Os educadores disseram que essa forma "carinhosa" de tratar o professor é incentivada pelos pais e também pelo professor que aceita essa designação numa boa.
A escola não é o quintal da casa de ninguém e que tia sempre foi a irmã da mãe, irmã do pai e nunca o professor que está lá para ensinar, orientar e não se acomodar em ser chamado de tia e/ou tio. Ela não frequenta a casa dos alunos no domingo para o almoço, ele não deve se misturar como se fosse um igual, coisa que ele não é, claro, que o professor deve ser parceiro de seus alunos, mas sempre mantendo certa uma distância na convivência com seus alunos e pais.
A escola vem perdendo seu espaço enquanto local de estudo, aprendizagem, convivência social, tanto que vemos constantemente alunos se agredindo mutuamente, agredindo professores e funcionários, coisa que antigamente nem em sonho se ouvia falar.
Por outro lado temos os pais omissos e apesar de trabalharem fora, na grande maioria, e que muitos fazem dessa situação uma boa desculpa para não acompanhar de perto seus filhos, o seu rendimento escolar, não participa de reuniões e pior, acha que a escola é que tem o dever de educar seus filhos, função que é de pais e não de professores.
A função do professor sempre será de dar conhecimento, interagir com alunos para que esses se transformem em cidadãos de bem, sabendo conviver de forma harmoniosa com as diferenças e em sociedade como um todo.
O professor não é "tio", ele é educador. Eu me lembro que antigamente todos estudávamos por uma cartilha chamada Caminho Suave e é o que era. Estudar de forma suave e com a ajuda de professores competentes transformavam crianças e adolescentes em cidadãos de caráter e o que vemos hoje?
As escolas nada têm de suave, muito pelo contrário, há medo, desrespeito e total desprezo pela educação e por todos envolvidos nesse processo tão importante e básico para a formação de uma sociedade mais justa.
Vamos mudar os valores que hoje se apresentam, pais observem e acompanhem seus filhos de maneira próxima carinhosa e eficaz, participem das atividades escolares. Todos sairemos ganhando.
 
E.T. Naquela época os pais é que arcavam com uniformes, cadernos, canetas e lanches.


terça-feira, 6 de novembro de 2012

AS DOENÇAS INFANTIS DO SÉCULO XX


CRIANÇA FELIZ SEM DOR DE DENTE
CRIANÇA COM DOR DE DENTE (INCHADO)
 
 

Antigamente era muito comum nas crianças doenças como coqueluche, sarampo, escarlatina, caxumba, catapora, rubéola e “nó nas tripas” (apendicite) e, principalmente dores de dente.

Naquela época os dentes das crianças eram cheios de buracos e que, tanto o farmacêutico como as mães “tacavam” Cera do Dr. Lustosa completando com o lenço amarrado no queixo com o nó no alto da cabeça  e assim, virava e mexia víamos nas escolas as crianças embrulhadas com panos e com cara de muita dor.

Os dentistas, por sua vez, não titubeavam em arrancar os dentes, com  aquele boticão monstruoso  e portanto não havia uma criança sequer que não tivesse pavor de ir ao consultório.

Nós tínhamos dentistas na família e se por acaso estavam na mesma festa que nós, as crianças, todas fugiam deles e era muito comum as mães  chamar para mostrar os nossos dentes e aí, conforme o diagnóstico, a festa acabava para nós.

Felizmente tudo mudou e ir ao dentista é uma coisa normal, sem pânico e até vão felizes, porque os dentistas presenteiam com balinhas, brinquedos e o consultório é alegre, cheio de bichinhos, isto é, nada de pânico.

Outra coisa bem comum era operar as amigdalas e ai nesse caso era   diferente, todas queriam operar para poder tomar muitos sorvetes e havia até inveja quando uma criança seria operada.

Criança com catapora, sarampo e escarlatina era tratada com  muito cuidado e exigia das crianças repouso absoluto. A pobre doente era  olhada com desconfiança pelos outros hoje apesar de continuar sendo contagiosa não é nada misterioso.

Caxumba a criança ficava com a garganta inchada e lá ficava um bom tempo com panos na garganta. Se fosse um menino o pânico era geral, pois ele poderia ficar com graves sequelas. Que tristeza!

Agora temos além dessas que acima citei, a Doença do Palhaço, que provoca vermelhidão na pele e é também contagiosa, mas aparece, principalmente na primavera por causa do pólen das flores e também pelo ar seco.

 

Roseli Tadeu Nabarrete

Foi criança no Século XX

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

DR DARCY - MÉDICO E AMIGO


 
 
Quem foi criança e mãe neste pedacinho da Vila Mariana se lembrará, com certeza, do doutor Darcy Pennachin, médico especialista em seres humanos, bem antes da ciência ter repartido nosso corpo em várias partes e especialidades. Naquela época, o médico tinha que conhecer todos os segredos, desde uma leve gripe até uma crise de apendicite ou rim.
O consultório dele ficava na Rua Santa Cruz, bem perto do Conjunto dos Bancários, e não preciso dizer que ele era o terror das crianças e o alívio das mães.
Qualquer sinal diferente, lá íamos correndo para ele, que muitas vezes dizia com voz séria e sempre carinhosa: “Só uma injeção curará”. E aí, era o terror. As crianças já começavam a chorar por antecipação, pois sabiam que descendo a escadaria do consultório logo estava a farmácia do seu Ernesto, ávido por ministrar a fatídica injeção.
Certa vez, enfiei um grão de feijão no nariz, coisa de quem é curiosa, e logo minha mãe percebeu que algo estava errado e eu, com a maior cara de pau, contei o ocorrido.
Minha mãe se desesperou, tentando arrancar o grão a todo o custo, eu, apavorada, já imaginando o grande pé de feijão saindo do meu nariz, ficando marcada para sempre pelos coleguinhas:
- Lá vai a menina do pé de feijão, se arrastando com tantas folhas para a escola e depois minha mãe colhendo os grãos. Imaginei que, com isso, ela não precisaria ir até o Joaquim ou seu João comprar feijão, pois eu própria produziria.
Bem, mas como minha mãe estava apavorada, fomos direto para o consultório do doutor Darcy, que olhou, tentou tirar, mas não saía de jeito algum. Enquanto ele falava com minha mãe do que poderia ocorrer se não saísse, olhei pela janela onde o sol estava batendo forte e aí eu espirrei e, zás!, o grão de feijão saiu voando. Ufa! Que alívio! Nada de injeções ou sofrimentos.
Muitos outros casos caíram nas mãos milagrosas do doutor Darcy, que atendia a todos com carinho e atenção. Não havia convênios médicos, como hoje, quando o médico nem se lembra que lhe atendeu um dia. Distância e descaso é o que vemos hoje.
Esse querido profissional nos deixou em 2002, aos 74 anos de idade, e aqui vai uma homenagem a essa alma tão dedicada e carinhosa.
 
 
Roseli Tadeu Nabarrete, moradora do bairro e paciente do doutor Darcy Pennachin


ERAM OUTROS TEMPOS

 
 
 
As crianças do século passado eram brindadas com cantigas de ninar como “Boi da Cara Preta”, “Dorme Nenê que a Cuca Vem Pegar”. Ora, um boi de cara preta e, se a criança não dormisse, a cuca a pegaria, assim como “O Cravo Brigou com a Rosa”, violência pura. Veja que absurdo cantar isso para as pobres crianças, mas todas dormiam mesmo pensando no boi e na cuca. Se fosse hoje, os pais estariam sendo punidos por cantar músicas tão apavorantes para os filhos.
As brincadeiras eram tantas e inesquecíveis como “Ciranda”, “Mãe da Rua”, “Passar Anel”, “Esconde-Esconde”, empinar pipa, rodar pião, queimada, bambolê e amarelinha (que tem o céu e o inferno) que jogávamos com casca de banana. E pensar que tudo era tão simples e ingênuo.
E quando os adultos estavam conversando e uma criança entrava, todos paravam de falar e diziam: “Mudem de assunto porque que tem gente ‘descalça’”. Eu não entendia porque estava sempre de sapatos e ia lá para fora sem nada perguntar.
Naquele época, criança não tinha voz para nada. Era beijar as mãos dos mais velhos, respeitar e obedecer, só isso, sem nenhum estresse. E essa educação dava certo.
Num Dia das Crianças, meu pai nos deu a coleção completa do Monteiro Lobato e também dos Irmãos Grimm, o que me levou a ser uma leitora contumaz. Hoje, sinto que os pais estão distantes dos filhos, muito mais do que antes, e tudo o que eles pedem é dado sem questionar. Não sei até que ponto é bom. Ipad, Ipod, celular, tablet e a criançada cada vez mais afastada das coisas simples do cotidiano. Vejo crianças com tudo pronto nas mãos e isso me assusta.
Bem o que tenho certeza é de que quando Deus coloca um ser em nossos braços, Ele nos possibilita sermos melhores e, por conseguinte, nos dá a divina oportunidade de criarmos seres para o mundo com amor ao próximo, solidariedade, carinho e amor por todos os seres vivos.
Crianças aproveitem este mês e curtam tudo com muita diversão, brinquedos e principalmente sua família, porque só somos crianças uma vez na vida.
Roseli Tadeu Nabarrete, tia de duas crianças lindas

BEIJANDO AS MÃOS


 
 
 

No século passado, aqui na Vila Mariana, bem como em todos os lugares da cidade onde haviam principalmente, italianos e espanhóis, o ato de beijar as mãos era um ritual obrigatório para todos, principalmente para as crianças. Chegava um tio, uma tia, o avô, a avó que lá estavam as crianças lambuzando a mão de todos com beijos “estalados” e ai daquele que se esquecia de beijar, era um deus nos acuda, os pais batiam na pobre criança sem cerimônia, as orelhas ficavam roxas de tanto serem puxadas e mais, a situação constrangedora do “pecador” que não sabia o que fazer, se beijava ou se corria para não apanhar mais. Por esse motivo, muitos parentes eram “odiados” pelas crianças, pois muitas vezes os parentes até podiam ficar quietos, mas não, eles é que “deduravam” as crianças para os pais e dá-lhe choradeira depois, e os parentes até se deleitavam com a surra.

Pode até parecer uma bobagem, agora que todos são chamados por “você”, mas naquela época era uma afronta imperdoável e para todos era motivo de assombro, uma criança tão mal educada “culpa dos pais” não daria boa coisa no futuro, assim eles pensavam e pior, falavam na cara dura.

Minha irmã e eu tremíamos quando chegava um parente e sempre corríamos logo a beijar a mão, para não ter motivo de repreensão.

Imaginem que minha mãe tinha 17 irmãos, todos casados, façam as contas quantas mãos teríamos que beijar: nossa boca ficaria inchada, vermelha e dolorida.

A bem da verdade essa imposição era feita pelos parentes, muito mais do que pelos pais, que se viam em apuros quando a criança ou o jovem não obedecesse a essa regra.

Certa vez, quando meu padrinho chegou, corri para beijar sua mão e depois, passado um  bom tempo, vi meu padrinho num canto da nossa casa limpando o nariz e olhando para ver o que tinha saído de lá. Quando vi aquilo, meu estomago embrulhou e saí correndo atrás da minha mãe. Perguntei a ela o por quê desse negócio de beijar a mão de todos, sem saber aonde tinham colocado antes, se tinham lavado ou não as mãos.

Minha mãe, vendo minha aflição disse que beijar a mão era  sinal de respeito para com os mais velhos e que vinha de muito longe esse hábito , portanto  seria muito difícil mudar a mentalidade dos mais velhos.

Depois desse incidente minha mãe e meu pai, aos poucos foram tirando de nós essa obrigação, que mais parecia submissão do que na verdade respeito, afinal somos todos iguais, crianças, jovens e adultos Felizmente isso é coisa do passado e hoje vemos crianças e jovens respeitando, mas com leveza e de igual para igual.

 

ROSELI TADEU NABARRETE

 (Beijadora Oficial de Mãos)