segunda-feira, 5 de novembro de 2012

BEIJANDO AS MÃOS


 
 
 

No século passado, aqui na Vila Mariana, bem como em todos os lugares da cidade onde haviam principalmente, italianos e espanhóis, o ato de beijar as mãos era um ritual obrigatório para todos, principalmente para as crianças. Chegava um tio, uma tia, o avô, a avó que lá estavam as crianças lambuzando a mão de todos com beijos “estalados” e ai daquele que se esquecia de beijar, era um deus nos acuda, os pais batiam na pobre criança sem cerimônia, as orelhas ficavam roxas de tanto serem puxadas e mais, a situação constrangedora do “pecador” que não sabia o que fazer, se beijava ou se corria para não apanhar mais. Por esse motivo, muitos parentes eram “odiados” pelas crianças, pois muitas vezes os parentes até podiam ficar quietos, mas não, eles é que “deduravam” as crianças para os pais e dá-lhe choradeira depois, e os parentes até se deleitavam com a surra.

Pode até parecer uma bobagem, agora que todos são chamados por “você”, mas naquela época era uma afronta imperdoável e para todos era motivo de assombro, uma criança tão mal educada “culpa dos pais” não daria boa coisa no futuro, assim eles pensavam e pior, falavam na cara dura.

Minha irmã e eu tremíamos quando chegava um parente e sempre corríamos logo a beijar a mão, para não ter motivo de repreensão.

Imaginem que minha mãe tinha 17 irmãos, todos casados, façam as contas quantas mãos teríamos que beijar: nossa boca ficaria inchada, vermelha e dolorida.

A bem da verdade essa imposição era feita pelos parentes, muito mais do que pelos pais, que se viam em apuros quando a criança ou o jovem não obedecesse a essa regra.

Certa vez, quando meu padrinho chegou, corri para beijar sua mão e depois, passado um  bom tempo, vi meu padrinho num canto da nossa casa limpando o nariz e olhando para ver o que tinha saído de lá. Quando vi aquilo, meu estomago embrulhou e saí correndo atrás da minha mãe. Perguntei a ela o por quê desse negócio de beijar a mão de todos, sem saber aonde tinham colocado antes, se tinham lavado ou não as mãos.

Minha mãe, vendo minha aflição disse que beijar a mão era  sinal de respeito para com os mais velhos e que vinha de muito longe esse hábito , portanto  seria muito difícil mudar a mentalidade dos mais velhos.

Depois desse incidente minha mãe e meu pai, aos poucos foram tirando de nós essa obrigação, que mais parecia submissão do que na verdade respeito, afinal somos todos iguais, crianças, jovens e adultos Felizmente isso é coisa do passado e hoje vemos crianças e jovens respeitando, mas com leveza e de igual para igual.

 

ROSELI TADEU NABARRETE

 (Beijadora Oficial de Mãos)

 

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