No século passado, aqui na Vila Mariana, bem como em todos os lugares
da cidade onde haviam principalmente, italianos e espanhóis, o ato de beijar as
mãos era um ritual obrigatório para todos, principalmente para as crianças.
Chegava um tio, uma tia, o avô, a avó que lá estavam as crianças lambuzando a
mão de todos com beijos “estalados” e ai daquele que se esquecia de beijar, era
um deus nos acuda, os pais batiam na pobre criança sem cerimônia, as orelhas
ficavam roxas de tanto serem puxadas e mais, a situação constrangedora do
“pecador” que não sabia o que fazer, se beijava ou se corria para não apanhar
mais. Por esse motivo, muitos parentes eram “odiados” pelas crianças, pois
muitas vezes os parentes até podiam ficar quietos, mas não, eles é que
“deduravam” as crianças para os pais e dá-lhe choradeira depois, e os parentes até
se deleitavam com a surra.
Pode até parecer uma bobagem, agora que todos são chamados por “você”,
mas naquela época era uma afronta imperdoável e para todos era motivo de
assombro, uma criança tão mal educada “culpa dos pais” não daria boa coisa no
futuro, assim eles pensavam e pior, falavam na cara dura.
Minha irmã e eu tremíamos quando chegava um parente e sempre corríamos
logo a beijar a mão, para não ter motivo de repreensão.
Imaginem que minha mãe tinha 17 irmãos, todos casados, façam as contas
quantas mãos teríamos que beijar: nossa boca ficaria inchada, vermelha e
dolorida.
A bem da verdade essa imposição era feita pelos parentes, muito mais
do que pelos pais, que se viam em apuros quando a criança ou o jovem não
obedecesse a essa regra.
Certa vez, quando meu padrinho chegou, corri para beijar sua mão e depois,
passado um bom tempo, vi meu padrinho
num canto da nossa casa limpando o nariz e olhando para ver o que tinha saído
de lá. Quando vi aquilo, meu estomago embrulhou e saí correndo atrás da minha
mãe. Perguntei a ela o por quê desse negócio de beijar a mão de todos, sem
saber aonde tinham colocado antes, se tinham lavado ou não as mãos.
Minha mãe, vendo minha aflição disse que beijar a mão era sinal de respeito para com os mais velhos e
que vinha de muito longe esse hábito , portanto seria muito difícil mudar a mentalidade dos
mais velhos.
Depois desse incidente minha mãe e meu pai, aos poucos foram tirando
de nós essa obrigação, que mais parecia submissão do que na verdade respeito,
afinal somos todos iguais, crianças, jovens e adultos Felizmente isso é coisa
do passado e hoje vemos crianças e jovens respeitando, mas com leveza e de
igual para igual.
ROSELI TADEU NABARRETE
(Beijadora Oficial de Mãos)
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